Cigana coloca as cartas na mesa e revela um futuro promissor em seu novo EP

No mês passado o Hits Perdidos falou sobre os mistérios por trás do EP A Torre (2015) da banda limeirense, Cigana. Poucos dias depois o trabalho foi oficialmente lançado pelo Selo King Chong.

O registro busca retratar uma nova fase do conjunto que parece ainda mais se aprofundar nas raízes da música brasileira, sem esquecer claro da veia rock’n’roll setentista, carta marcada no baralho da banda.

A produção do álbum ficou por conta de Mário Tiengo e as gravações aconteceram em julho de 2015, no Coda Studios, em Limeira/SP.

Assim como já antecipamos no último post, a escolha do nome “A Torre” vêm do 16º arcano maior do baralho do Tarô, que representa o “rompimento das formas aprisionadas, libertação para um novo início; desafios dos momentos de transição” expressos nas composições para o álbum.

Para saber mais sobre a interessante carta do baralho cigano, clique aqui.



Mas antes de me aprofundar na resenha do EP faço questão de contar que recebi pelo correio os EP’s do Cigana, junto a um bilhete com aquelas mensagens que apenas fazem com que você recarregue as energias, acredite no que faz e não parar de escrever. Obrigado, de coração.



Passado este momento bonito, chegou a hora aguardada: a da resenha.

O EP abre com a faixa “Inconsciente”, confira algumas palavras que o guitarrista Matheus Pinheiro disse sobre o som:

Inconsciente é a música que resolvemos soltar antes do EP completo, e tomamos essa decisão pelo conteúdo de sua letra – ela representa bem o que estávamos sentindo e pensando no momento em que escrevíamos e produzíamos o disco…ela conversa bem com o trabalho como um todo”

A faixa é delicada, reflexiva e brinca com o universo das previsões e do conflitos da vida. Logo nesta primeira canção já começamos a entender o campo lúdico para falar dos sentimentos que as cartas de tarô nos reservam. A melodia é harmoniosa e conseguimos ver a força dos vocais doces casando com a dramática guitarra psicodélica que soa como um piano. Fica a dica de quem sabe num futuro próximo tentarem recriar um B-Side com teclados e talvez uma leve percussão (de um Cajon), baixo (ou contra baixo) e violão. Acredito que ficaria super bonito e harmonioso para um set acústico.

O single conta com um lyric video e em breve ganhará um vídeo clipe oficial.



“Aclive”  tem uma veia introspectiva em sua atmosfera. A canção fala sobre as inseguranças e os obstáculos que enfrentamos nessa árdua caminhada chamada: Vida. O teclado soa como sinos e te passa a calma necessária para esse tipo de reflexão complexa. A música conta com a participação do rapper Vitex que no improviso encaixa rimas mostrando um contraponto de visão sobre as transformações, dramas, escolhas e dificuldades que enfrentamos durante esse rito de passagem.

“Um Desabafo” talvez seja a faixa mais rockeira do disco. Com stoner nas guitarras, baixo pegado a melodia ainda ganha um mix interessante de vocais e um teclado rocksteady ao fundo. O backin vocal em certo momento ainda me remete um pouco a Arnaldo Antunes. E as guitarras além do stoner tem um toque de southern rock o que deixa ainda mais interessante o mix de influências na parte instrumental setentista. “Um desabafo” faz críticas sobre a geração atual, visão de mundo, rotina e valores.

A música ainda conta com uma espécie de “Hidden Track” ao fim. Uma curta canção – em inglês – que fala sobre o tema das preocupações com o futuro, um dos questionamentos centrais do disco e das cartas de tarô. Tudo isso com uma vibe lo-fi bem despojada.

“All I Said” tem uma atmosfera otimista em sua melodia, e te remete ao rock/pop americano dos anos 90. O instrumental te lembra um pouco o som do Sebadoh, só que com vocais do pop da mesma época – de cantoras como Pink. O que resulta interessante visto de uma perspectiva de que revela um outro lado das composições do grupo. Os sentimentos X razão são o tema central da composição. Uma canção de amor, sobre saudade e distanciamento.

E assim o disquinho se despede, em um mar de conflitos e dúvidas sobre o futuro que em suas cartas de tarô encontra a perfeita metáfora. Uma nova fase da banda Cigana que revela – mediante as cartas e apostas – um futuro promissor.

Destacaria os singles “Inconsciente” e “Um Desabafo” como canções com grande potencial pop. E que as cartas do destino ainda abram muitas portas para o grupo.



Acompanhe o trabalho da banda Cigana:

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This post was published on 19 de outubro de 2015 3:36 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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