Hoje vamos falar sobre a Onda….
Calma, não dessa Onda!
Muito menos dessa onda. Porém, sem fugir muito do território místico e carnavalesco do Axé, esta ONDA é tão poderosa, vibrante e visceral que é completamente capaz de causar essa reação na Ivete Sangalo:
Mas vamos parar com a palhaçada por aqui (ou não), porque de Palha Assada já basta o look do guitarrista – André Raeder AKA. Raider – em seu recente aniversário (boatos que só ficou devendo uma performance de Frozen – mas fica a dica para uma próxima):
A banda Alaska já é queridinha do Hits Perdidos e já foi citada por aqui algumas vezes durante o período de existência do blog (aproximadamente 1 ano e meio – mas nunca fui muito bom com números). Até por isso tenho a liberdade – de chutar o pau da barraca – e fazer um post um pouco mais descontraído, sem desmerecer o belíssimo trabalho que eles tem feito.
Ok, ok, Eduardo Jorge.
Após a gravação do single “Vista” para o projeto Converse Rubber Tracks chegou o momento de uma nova fase da banda. A Alaska queria sonhar alto, desbravar novos mares e enfim: lançar seu primeiro disco.
Mas para que isso fosse possível, o grupo optou por pedir a ajuda dos fãs e começou uma campanha via Catarse para financiar o projeto e todos seus complicadores.
Acontece que algo inesperado aconteceu no meio do caminho e não apenas superaram a meta estabelecida com facilidade como: Dobraram a meta.
Após alguns meses de espera, chegou o grande dia: O show de lançamento do tão esperado disco, Onda (2015).
Não pude ir dessa vez mas confio nos relatos impressionados de quem foi. As faixas do novo disco me despertaram um certo arrependimento, que vou sanar em breve. Porém, minha irmã Victoria, esteve presente e me trouxe o Kit da minha contribuição no projeto do Catarse.
Não preciso nem dizer que achei sensacional. Tudo planejado nos detalhes, desde a sacolinha personalizada até a ante capa. Aliás o projeto gráfico foi elaborado pela dupla Guilherme Garofalo e Flávio Dechem. Vale a pena serem citados afinal a correria do independente é essa mesma: todo mundo se ajudando para um prol de algo maior.
O resultado do disco foi captado no CAVALO ESTÚDIO por Nicolas Csiky – também batera da Alaska – e Gabriel Olivieri. Gabriel também assina a produção ao lado da banda. A mixagem e masterização foram realizadas por Ricardo Pontes.
O álbum foi escrito e gravado durante os meses de março e maio de 2015. A capa é um fragmento da obra våg n. sje (2015, óleo sobre tela) e é assinada por Guilherme Garofalo. E o resultado final você pode ouvir logo abaixo:
Mas como está virando tradição por aqui, vai rolar resenha faixa a faixa, SIM.
O disco começa com “Incompleto”, uma canção suave e lenta com aquele ar post-rock que se choca com as ondas intergaláticas de bandas como Angels And Airwaves. A música é um hino de despedida, é na melodia que a banda chega mostrando que sabe trabalhar com uma técnica apurada. A vibe é bem no esquema interlúdio e aquece para a progressão nas faixas que prosseguem.
“72” já mostra a dualidade da banda que flerta com o hardcore e o experimental, a influência de Thrice é evidente. No campo da composição as metáforas com a temática do mar abrem caminho. Conforme vai caminhando, a canção progride e flerta com o Stoner Rock, que remete a outra banda que vem se destacando no cenário independente atual, a Far From Alaska. Pois é Alaska é o nome da vez no campo musical nacional.
“Alto-Mar” é a que prossegue e segue ao encontro da Onda. Trocadilhos a parte, quando eles divulgaram o videoclipe, antes mesmo do lançamento do disco, me deu um estalo de fechar os olhos e imaginar ela tocando facilmente em alguma rádio Rock de massa como a 89 FM (SP) ou a Rádio Cidade (RJ). Não tem jeito: quando uma música tem potencial pop; já diriam alguns Hit não precisa passar dos primeiros três ou quatro acordes para notar seu potencial.
Nesta canção a banda sobe à bordo, assume o leme de seu barco e se aventura em alto-mar fazendo uso sinestesias (Pascoale aqui) entre o mar e o campo gravitacional dos sentimentos. Letra bastante reflexiva e refrão que gruda na cabeça feito chiclete. A progressão dos acordes neste momento dá toda uma sensação de desespero e perigo que fazem com que o ouvinte realmente tenha a sensação de estar se afogando em alto-mar.
“Solta a direção e só por um segundo sente o ar.
Invade o seu pulmão e deixa a correnteza te levar.”
“Impulso” tem aquela levada gostosa e perfeccionista que lembra um pouco a levada islandeses do Sigúr Rós abraçando o Mogwai. Cheia de transições melódicas a música te passa a sensação do chacoalhar do mar, aquele enjoo do balançar do barco que para um marujo um pouco longe do mar – como quotado abaixo – se embriaga em busca de paz e contempla o luto após o fim de um sonho.
“Se alguém perguntar, só diz que eu saí.
Fui tomar um ar bem longe daí.
O tempo é tão curto pro tempo que faz.
Queria voltar, dois passos para trás.”
A faixa seguinte “Calma” tem justamente esse papel, a transição de ambientações, o choque dos sentimentos contra-postos. Uma banda que fez um tremendo sucesso esses últimos tempos com essa linha de som são os americanos do Real Estate. A confusão mental do eu-lírico em aceitar sua perda, a vontade de correr atrás e ao mesmo tempo querer por um fim. Uma antítese na narrativa do disquinho que a cada ouvida soa como uma coleção de contos entrelaçados (que podemos chamar de nós).
“Exílio” é potente, sombria, cheia de distorção, transições e os teclados de Vitor ganham papel fundamental no contexto todo, naquela levada Motion City Soundtrack – nesse aspécto em específico. Outra marca desse som são as participações de Gustavo Bertoni (Scalene) e Teco Martins (Sala Especial | Rancore). A sensação do barco pilotado pela banda estar à deriva é marcante. Provavelmente após ouvir ela vá ficar com esse trecho ecoando na cabeça:
“Navega contra o mar
Sem terra para voltar.
Desfaz a solidão e
deixa afundar.”
Se estava já empolgado para ir ver no próximo mês de Outubro a banda Circa Survive no Cine Jóia, após ouvir “Superfície”, fiquei com vontade de ouvir a discografia. Ainda tem um quê de Manchester Orchestra na progressão sutíl de guitarras e sinfonia que me pegou. O tema da transcendência é central, a vontade de se encontrar, ser você mesmo e a contradição que isso causa entre: querer e poder.
“Ópio” pode até não estar em seguida de “Exílio” mas parece dialogar tanto na composição como na parte instrumental. O ar teatral/circense e na vibe “invadindo o castelo de conde drácula” agem como veia central do conflito de emoções na faixa.
A correnteza dos conflitos se evidencia a cada estrofe, em alguns trechos me lembrou até o story telling de discos como Pretty. Odd (2008) da banda estado unidense, Panic At The Disco (espero que os caras não me levem a mal pela comparação).
“Correndo com tessouras”, “Alto-Mar” e “Exílio” se destacam por seu potencial pop, sendo assim ganhando o status de: os singles do disco. E pela mesma base que ao longo do disco se consolida, os detalhes, as transições entre a calmaria e a explosão, assim como o mar que tem a correnteza e a ressaca. Nessa canção em específico a harmonia no contraste dos vocais e backing vocals é um ponto positivo. É uma faixa mais pesada, a distorção é mais forte e os contrastes são marcantes. A música caminha como uma onda, a explosão não está no refrão em sí, a dualidade entre a calmaria e o peso fazem com que essa canção consiga decantar os talentos individuais de cada músico.
“Entre o Ódio e o Nunca Visto” tem um pouco de lo-fi, post-rock e post-hardcore. Sim, conseguiram encaixar todos esses mundos nela. Delicada, densa e poética ela é progressiva. Provavelmente agrade a quem for mais ligado ao som do Thrice. Eu imaginaria ela fechando os créditos de algum filme por exemplo. O que não é nada mal, não acham?
“Enfim, Tempestade” bebe da fonte do math core e o baixo funciona como marca-passo. A letra bastante dramática merece destaque como uma das melhores do disco. É o divisior de águas e marca a transição do começo ao fim do disco, como uma bússola auxiliando aos navegantes.
“Acorrentado, nunca pensou em fugir.
Quando livre escolheu não partir.
Foi covarde ou só teve coragem.
De se aventurar onde os outros não vão.
Ou talvez não exista razão,
Só motivos para continuar essa
falha existencial que nos força a caminhar”
A melancólica “O Resto é Silêncio”, já declara nos primeiros versos: o barco afundou. Emotiva até a última ponta, a faixa ganhou até uma participação especial da Mariana Ávila – que para quem não sabe é a namorada do Raider – e conforme vai caminhando a faixa ganha peso e dialoga com a faixa que abre o disco “Incompleto”. Assim funcionando como uma contra-resposta aos planos da narrativa e respondendo ao questionamento levantado em “Correndo com Tessouras”.
“…Não sei me despedir
E quando eu penso em “vai passar”,
me vem essa vontade de voar.
Pois onde eu estiver, é o meu lugar.
A “Onda” enfim chega na última canção para concluir o discurso poético. A assimilação do fim e o desespero de saber que realmente não há volta. A canção é longa e vai destrinchando o restante do disco e todos seus questionamentos pendentes.
Onde os sonhos se materializam em lembranças de algo que felizmente aconteceu. Uma boa frase de cabeceira, vai dizer que vocês vão quotar, hein? Mas a riqueza nos detalhes do kit do catarse se revela nessa canção. A onda é usada como uma metáfora e é personificada para ajudar o eu-lírico a aceitar a perda.
“…Onda, me diz o que será.
Será que ela vem, ou posso afundar?
Onda, não sei me despedir.
Mas sempre vou lembrar
Eu sempre vou levar, Onda.”
A maturidade da banda no disco é impressionante. Por mais que se trate do primeiro trabalho full-lenght, parece com que os anos juntos fizeram com que eles chegassem no ponto perfeito para extravasar todo aquele potencial em um disco sólido e detalhista em todos sentidos. Se “Vista” já deixou muita gente com os dois olhos arregalados, amigos, só foi o cartão de visitas do que estava por vir.
É muito bom também ver outra faceta da banda. É o primeiro disco, sim, mas os caras tiveram a ousadia de fazer ele todo conceitual e amarradinho. Do começo ao fim, a Onda une tudo, desde o mar de emoções a harmonia do post-rock e seu experimentalismo. Se muitas vezes as composições são deixadas de lado por muitas bandas nesse estilo, Onda (2015) tem nelas: seu porto seguro.
This post was published on 15 de setembro de 2015 4:58 am
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