Resenha: “Uma noite do caos as trevas” com Mind.rape, The Fingerprints, Blear, Der Baum e Mary Chase no Morfeus

 Resenha: “Uma noite do caos as trevas” com Mind.rape, The Fingerprints, Blear, Der Baum e Mary Chase no Morfeus

fotos por Cintia Ferreira e Allan Carvalho

Na última sexta-feira (19), tive o prazer de ser convidado para fazer um DJ Set ao lado da Debbie Hell e aquecer os tambores para um mini festival, organizado pela Dinamite Records em parceria com – o programa mais legal de rádio da Brasil 2000 – Debbie Records, que rolou no Morfeus Club.

dj set posterO festival reuniu as bandas: Mind.Rape, The Fingerprints, Blear, Der Baum e Mary Chase. Mas como disse antes, fiquei responsável por tentar agradar os presentes com uma trilha sonora convidativa ao que estava por vir. Quem esteve presente pode conferir sons de bandas como Gang Of Four, Black Flag, Cock Sparrer, Sunny Day Real Estate, Circle Jerks, Husker Du, Fidlar, Adolescents, Suicidal Tendencies, The Saints, Turbonegro, Rocket From The Crypt, Mudhoney, The Cramps, The Crowd, Agent Orange, Swingin’ Utters entre outros. Ah, até versão rocksteady de Disorder do Joy Division rolou.

Após escolher propositalmente ”Seven” do Sunny Day Real Estate para aquecer o Mind.Rape, visto que sei que é uma das grandes influências da banda, os próprios enquanto ajeitavam os últimos detalhes para iniciar os trabalhos – se animaram e foram testando os equipamentos tentando acertar o tempo da música que estava sendo tocava – o que foi bem divertido para todos presentes que prestaram a atenção na grande bagunça que ia se moldando.

Com todo clima de inferninho underground que o Morfeus nos proporciona, outro clima se somava ao habitual, o de despedida. Estava para acontecer em instantes o último show da Mind.Rape por algum tempo. Mas calma! a banda não dava por encerradas as atividades e sim; pararia por algum tempo, visto que Guilherme Maia (Vocal, Guitarra) está de malas prontas para uma temporada na terra do Tio Sam, onde promete voltar com grandes novidades.

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A banda formada no fim do ano passado ainda possuí poucas músicas, porém a vibe suja e a pancadaria grungeira somada as influências do Emo (original, não o de FM, OK?), são bastante marcantes. A levada no palco não deixa mentir tudo isso, entre um chute e outro você pode ver os pratos sofrendo ao fundo e Guilherme quase tropeçando nos pedais. Tudo soa muito alto e te transporta para os anos 90, e o puleiro underground do morfeus neste momento te faz lembrar uma garagem ou melhor dizendo: o estábulo onde o Nirvana praticava seus ensaios.

A energia é muito boa e a banda que ainda tem poucas músicas em seu repertório, vem jogar na cara de todo mundo ~toma essa pedrada aí ~ uma versão de Stooges. Essa banda que sempre será marcada como a ”Encapetadora de Jóvens Inocentes”, tem o poder de destruição ao executar o primeiro acorde, o que faz qualquer um que toque com destreza e entenda a mensagem: querer incorporar Iggy Pop e dispensar qualquer momento de sobriedade.

Em seguida, na vibe The Replacements esculachada de ser, Guilherme ~incorpora o lado palhaço de Paul Westberg~ e questiona se queremos ouvir ”Sheena Is A Punk Rocker”, após poucas respostas, eles decidem todos desajeitados e meio no improviso arriscar o hit. E assim como os Replacements faziam, em tom de deboche e puro rock’n’roll, mal terminam a música e dão por finalizado o show.

No intervalo dos shows, Debbie Hell assumiu as pick-ups e fez seu clássico set que deixa todo mundo pulando para o alto ao som de MC5, Stooges, T.Rex e tantas outras que fazem você passear pelo sub mundo do Mate-me Por favor – que se você não sabe o que é POR FAVOR corre e leia esse livro ~para ontem~.

finEra a vez do The Fingerprints, que também estava fazendo seu show de despedida por tempo inderteminado mas promete novo EP, logo, aguardemos. Com influências do punk 77 ao grunge, é fácil notar aquela veia Bikini Kill, The Distillers, CIVET, aliada a muita distorção típicas do som de Seattle.

O show começou com muita pegada, mostrando bem ao que vieram: se despedir com chave de ouro. Super divertido, cheio de piruetas, palhaçadas, baixista e guitarrista deitando no chão para tocar, vocalista subindo na bateria entre outros flashs.
Assim mostrando que o clima era total de curtição e descontração, no qual a banda estava preocupada também em se divertir (tem coisa melhor do que não se levar a sério?).

Pouco antes do show, eu tinha colocado para tocar ”Stuffed” do finado Holly Tree, e lembro da vocalista ter comentado de que tinha ficado feliz ao ouvir esta música pois eles gostavam muito e faziam até cover dela. Coincidências ou não, em determinado momento do show ~durante problemas técnicos da casa ~ eles arriscaram brincar de tocá-la, até que tudo voltasse ao normal, claro.

Outro ponto alto do alto do show, foi quando decidiram fazer uma versão de ”(You Gotta) Fight For Your Right (To Party)” do Beastie Boys, o que foi responsável por animar todos os presentes que já iam caminhando para a embriaguez. Com vocais alternando por praticamente toda a banda e atitude ”moleca”, o cover quase que se tornou numa grande jam e foi possível observar copos de cerveja voando para o alto.

Era a hora do show do Blear. Formado em 2013, o Blear possuí um Epzinho íntitulado ”Melting Sun”, carregado de influências dos anos 90 com toda aquela veia shoegazer que bate de frente com a grungeira suja e abraça o espírito do emo revival. Cheio de riffs, microfonias e muita distorção.

Foi o show para dar aquele contra clímax da barulheira que veio antes, porque afinal: barulho é bom mas as vezes é boa uma calmaria para se equilibrar. E nada como aquele lado b dos anos 90, introspectivo de bandas como American Football, Local H, Ride e Superchunk para alinhar o eixos.

O show acabou sendo abreviado em cerca de 25 minutos, visto que ainda teríamos outras duas bandas para se apresentar e os show até o momento já estavam atravessando a madrugada a dentro. Mas posso dizer que é um show muito bom e fiquem ligados na agenda de show deles no Facebook.

Após mais um set da Debbie Hell, desta vez focado no submundo do Post-Punk/New Wave, era a dica do que estava por vir:
Seriamos em questão de minutos transportados para o mundo das trevas obscuro dos inferninhos do centro de São Paulo nos anos 80, o Morfeus naquele momento daria lugar ao clássico Madame Satã e Der Baum subia ao palco.

fotos por Cintia Ferreira e Allan Carvalho
Fotos por Cintia Ferreira e Allan Carvalho

Posso dizer que era um dos momentos mais aguardados da noite ao menos para mim. Desde que ouvi pela primeira vez o novo EP da banda, We already live in the future, produzido e gravado no Estúdio Costella por Chuck Hipolitho (ex-forgotten boys e atual Vespas Mandarinas), quis vê-los ao vivo para conseguir sentir a vibe que eles conseguiram transmitir nas gravações.

Fotos por Cintia Ferreira e Allan Carvalho
Fotos por Cintia Ferreira e Allan Carvalho

E me surpreenderam facilmente, com aquela introspecção, veia dark alá Siouxsie And The Banshees com as trevas de Dave Vanian (The Damned) e Bauhaus, com aquele toque disco dançante de DEVO, New Order e dos B-52’s.

Posso falar que antes de começar o show fiquei na dúvida se aquele tanto de gente ia caber no palco, visto que a banda possuí 6 integrantes: Ian Veiga (Teclados e voz), Fernanda Gamarano (Guitarra e voz), Amanda Buttler (Bateria eletrônica e Baixo), Rafael Pires  (Guitarra e voz), Lucas Lerina (Baixo e voz) e César Neves (Bateria).

E acontece que a banda é a junção de vários talentos individuais, por sua vez impressiona a quantidade de gente que canta e toca instrumentos por metro quadrado e a sincronia que consegue exercer. Por muitos momentos você consegue ver o local se tornar uma grande pista de dança, cheia de sing-a-longs e a festa vai se completando.

A imersão nos anos 80 e nas levadas de teclado e bateria eletrônica começam a crescer dentro de você e você se vê obrigado a arriscar uns passos mesmo que desajeitados, dando indícios de não sobriedade nos presentes.

Em certo momento eis que eles se arriscam a mandar ”Private Idaho” do B-52’s e a dignidade – junto da casa – foram abaixo, a própria banda mesmo pareceu se empolgar e quis transformar a já pista de dança em um carnaval obscuro, tanta agitação que achei que o palco ia ceder por alguns instantes, mas eles bem sabiam o que estavam fazendo. Um dos grandes altos da noite com certeza ficou para apresentação do grupo.

Para fechar a noite tivemos show do Mary Chase que por conta do horário acabei vendo pouco mas procurem saber sobre eles, tem uma pegada anos 90 rasgada bem interessante. Recentemente eles participaram do projeto Converse Rubber Tracks, onde no Estúdio Family Mob gravaram algumas canções, então fique esperto e vá atrás!

O saldo do festival foi que SIM, tem muita banda nacional independente dando um duro danado e fazendo um som de qualidade e bem feito apesar das dificuldades. Não deixe de ir de vez em quando a alguns shows da sua cena local, porque a chance de se surpreender e descobrir bandas legais, é enorme!

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